quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Victor Folquening: um formador de mentes

Por que lamentamos e nos entristecemos sobre aquilo que é mais certo na vida de qualquer um? De fato não consigo entender. Ontem ao acessar meu Facebook me deparo com a postagem de meu amigo e jornalista Guilherme Grandi que dizia: “Jornalismo paranaense em tarde de tristeza”. E pensei por segundos, seria sobre o deputado que morreu? Mas o que teria a ver o deputado com o jornalismo? Nada, óbvio, nada mesmo. E comecei a pesquisar para saber quem era, afinal, pela ênfase dada à tristeza era considerável e se é do jornalismo me interessa. De repente vi a postagem de outra pessoa respondendo de quem se tratava: Victor Folquening. Nesse momento veio o choque; e pensei, não pode ser, é o Victor de brincadeira com a galera, mas os comentários sobre o assunto foram se somando, pessoas postando fotos, lamentações e outro comentário do Guilherme que havia dado a notícia para a Band News: “Posso dizer que nunca dei uma notícia com a voz tão embargada como hoje @Victorfolq R.I.P.” simplesmente acabaram com meu dia e fiquei tomado por tristeza e reflexões, como até agora estou.

Sem desmerecer o restante dos professores que tive, mas o Victor foi mais que um professor, foi um formador de mentes. Nessa reflexão pude perceber que minha essência como jornalista partiu totalmente do contato que tive com ele como aluno e como amigo, foi um grande divisor de águas profissionalmente e pessoalmente falando. Não é para menos, pois tivemos uma overdose de Folquening durante os quatro anos de jornalismo: teoria da comunicação, história da arte, cinema e estética e cultura de massa de 2002 a 2005. Muito bem definido pelo jornalista Osny Tavares (Gazeta do Povo) quando diz que “outra característica marcante era a ironia mordaz que permanecia mesmo quando tratava de assuntos sérios, o que não raro lhe rendia reações coléricas e reprimendas – às quais respondia com mais ironia”. Absolutamente verdade, talvez isso hoje seja fruto de uma frieza que possuo ao tratar de assuntos envolventes para não me deixar levar pelas emoções, ao menos tento e se não consigo procuro não demonstrar. E é tão profundo isso que é difícil explicar. Victor também ensinou a olhar o mundo de forma diferente. A saber olhar os que estão a sua volta sem preconceito. A não ser aquele cara vazio culturalmente que se deixa levar pelos efeitos midiáticos e nem apocalíptico ao extremo com aquela ignorância de que apenas você sabe o que é bom e aceitável. É ser gente, mas com profundo conhecimento, é ser integrado, de “Apocalípticos e Integrados” (Umberto Eco), olhar, interpretar o que está lá fora, ver que é ruim, mas saber fazer parte daquilo com um mínimo de decência.

Victor trouxe leveza a assuntos considerados não tão agradáveis pela maioria como semiótica, estruturalismo, pós-modernismo e as teorias dos pensadores de comunicação (McLuhan, Horkheimer, Ivan Pavlov, Adorno, Habermas, Althusser). Geralmente discute-se por aí a união da teoria e da prática no jornalismo, a composição dos dois é que dá o tom, mas com o Victor recebemos um terceiro item, o item da essência, do subconsciente, da interpretação, de fazer a leitura dos cases do mundo com um terceiro olho, é como observar uma mesa e aquilo não ser apenas uma mesa, é como comparar, e isso ele mesmo fez, Veja com Caros Amigos, e dizer que não passam da mesma coisa só que com leitores que possuem deuses diferentes. Talvez eu esteja fazendo uma confusão de ideias, e isso ele fazia muito bem, que se forem colocadas num liquidificador o resultado é magnífico, então não precisa muito saber por qual processo todas essas ideias passaram, o importante é o que sai.

Uma madrinha e tia avó pontagrossensse (Maria de Jesus) já falecida, que nos visitava sempre em Araucária, onde eu morava, disse uma vez, durante a época que eu estava na faculdade: “Ah eu tenho uma comadre em Ponta Grossa, a dona Neli, que tem um filho jornalista que é professor em Curitiba, chama-se Victor”. Contei ao Victor. E ele: “não acredito que você é afilhado da Dona Jesus, ela parece a Viúva Pursina”. Só foram risadas, pois essa minha madrinha realmente gostava de roupas e acessórios coloridos.

Até hoje não cumpri uma pauta recomendada por ele: uma matéria sobre a briga de agências funerárias no IML de Curitiba. Tentei, mas fiquei no local apenas duas horas, um dia cumprirei.

Uma pena! Do Victor Folquening ficaram as lembranças, somente boas, algumas fitas cassetes das aulas que gravava de teoria da comunicação, do modo como contava sobre o “american way of life”, da forma como criticava Renato Russo, de como tirava sarro dos playboys , de ele contando que gostava de caminhar com uma camiseta do MST no Shopping Cristal, do tribunal da Indústria Cultural, turmas defendendo e acusando o fenômeno no formato de um júri, das exposições de Hamlet e MacBeth, da escadaria do Unicenp, hoje Universidade Positivo, toda rodeada de panos coloridos, e não era menção à parada gay,então qual o motivo Victor? Ele mais ou menos dizia que era “para analisar o comportamento dos demais acadêmicos da instituição, para chocar, e tão somente”.

Assim era mais ou menos Victor Folquening, o qual vi pela última vez numa visita que o fiz na Unibrasil e que, recentemente, o seguia no Twitter. Victor, grande mestre, vá em paz.

(06/11/1973-31/01/2012)