domingo, 14 de junho de 2009

Fátima Ribeiro, a única mulher da Câmara de Telêmaco Borba, no comando de nove homens


Ela prefere não utilizar o verbo comandar porque o considera forte demais, mas há que se ter força por ser a única mulher dos 10 vereadores e ainda assumir um papel de liderança. Fátima Ribeiro está no seu terceiro mandato e agora é a presidenta da Câmara Municipal. Sempre demonstrou uma posição de bater de frente com o que acha certo. Em novo papel, agora mais diplomática, conta à reportagem do CV o que mudou após assumir a presidência.
Márcio Rodrigo: Como é ocupar a cadeira maior do Legislativo?
Fátima Ribeiro: Para mim é natural, afinal eu vim trilhando meu caminho devagarzinho, com aprendizado, claro que é algo que a principio te assusta, logo assumir a presidência da Câmara veio de um processo normal, mas sabendo da responsabilidade, sabendo dos percalços, mas agindo de maneira tranqüila. Tenho um relacionamento muito bom com os vereadores e digo isso porque eu realmente tinha um receio, afinal eram sete novos. E eu estou gostando de ver porque estamos nos comunicando bem, nos relacionando bem, dentro de uma democracia muito grande. Ouvimos todos, desde a Mesa, os vereadores e até a assessoria.
MR: São sete vereadores novos, às vezes nota-se que a senhora perde a paciência. É difícil comandar nove homens?
FR: Não digo perder a paciência, mas por serem nove homens eu realmente não deixo a coisa correr quando um assunto qualquer se polemiza e que não tem muito a ver com a pauta. Se extrapolam eu já corto. Normalmente não dão trabalho.
MR: É difícil comandar nove homens, sendo mulher?
FR: Eu não diria o termo comandar, mas, na verdade, é muito bom o convívio. Em outras oportunidades eu já disse isso. São companheiros, me ajudam, mesmo os vereadores que não são da mesa colaboram, fazem todo o possível para o bom andamento da Câmara.
MR: A senhora considera uma conquista ser mulher e ainda presidir?
FR: É claro que um orgulho para nós mulheres, não meu. A mulher, às vezes, é deixada em segundo plano, mas quando você se doa a uma profissão e tem um idealismo o que interessa é a competência, o que interessa é o grau de receptividade que se tem com os companheiros. Num determinado momento, de eleição, por exemplo, você precisa disso. Vejo os companheiros de maneira muito amável e acredito que isso seja recíproco.



“Se o Executivo não chegar num acordo com a Klabin a Câmara parte para a desapropriação de terras. O prefeito tem carta branca”


MR: Na gestão passada a senhora sempre falava sobre estar na oposição, mas não fazer parte de uma oposição burra. Hoje em dia vemos a vereadora mais diplomática, mais ponderada. Até notamos um melhor relacionamento com o prefeito. O que mudou? Foi o prefeito Eros?
FR: O relacionamento com o Dr. Eros na gestão anterior era bom, o pessoal, mas tínhamos diferenças políticas. Como eu estou na condução da Câmara, adotei politicamente uma atitude neutra. Nesses dois anos deixei de lado meus projetos como vereadora, opção minha para trabalhar em prol do coletivo, tive dois ou três pronunciamentos e falta tempo também. Fiz uma opção consciente. E com Dr. Eros também ajo nesse sentido. Passo o pensamento da equipe, para que todos apareçam bem.
MR: Mas hoje a Fátima vereadora é da oposição ou da situação?
FR: Preferi ficar sem rótulos dessa vez. Já o tive durante 4 anos. Se o prefeito não lhe rotula, a assessoria lhe rotula. É muito difícil atingir seus objetivos assim. Na verdade eu nunca tive problema com essa questão, só tive rótulo, não sou situação nem oposição, mas se tivesse que definir seria mais situação, mas no sentido de acompanhar de perto para tirar o lado mais positivo daquilo, até para poder embasar uma ideia do que está acontecendo. Eu prefiro estar neutra. Não sou advogada, nem defensora do prefeito, muito embora eu tenha às vezes que explanar uma ideia e dizer minha posição, mas não gostaria de rótulo.
MR: Semana passada aconteceu o encontro da Uvepar. Nele foi lançado o Código de Ética do Vereador. O que ele trouxe de benefício para o meio político em Telêmaco Borba?
FR: Eu não vou negar, eu não li ainda o Código de Ética. Participei do lançamento, mas recebi hoje (11 de junho). Nós já temos nosso código pronto e quero ler com tempo e comparar. Sei pelo lançamento de alguns pontos que interferem até na vida pessoal do vereador. Na Uvepar em si, nós mulheres tivemos um encontro com a Gleisi, Dra. Zilda Arns e mais uma palestra; tivemos um proveito muito grande, a tarde o lançamento do Código, depois apenas os presidentes se reuniram no Tribunal de Contas onde fomos recebidos pelo presidente Hermas Brandão. Foi muito bom. Pudemos colher várias informações
MR: Em relação ao valor exorbitante que a Klabin cobrou da Prefeitura pelos lotes para o Minha Casa, Minha Vida. Como a Câmara se posiciona?
FR: Contra a Klabin e a favor do prefeito. Nós estamos formando um “frentão”. Se o Executivo não chegar num acordo com a Klabin a Câmara parte para a desapropriação de terras. Os preços estão variando entre R$ 30 a 290 mil, que variação é essa? Se não existir acordo, os 10 vereadores já decidiram: o prefeito tem nossa carta branca. Temos que partir para 10 alqueires porque dois é muito pouco.
MR: Afinal esse programa é de extrema importância ao município.
FR: Nós não podemos perder em hipótese nenhuma. Então partiremos, a priori, de uma desapropriação de dois alqueires para se construir apartamentos. Aí, é bom destacar, que há uma discordância, por ser uma população extremamente carente, de até três salários mínimos e a adaptação em apartamentos fica bastante complicada. Essa análise, inclusive, partiu do próprio vice-prefeito. Nosso objetivo é que se desaproprie mais para construir casas de fato.
MR: O vereador Gilson afirmou e depois voltou a trás quanto a existência de divisão de salários entre os assessores com seus vereadores. Como a Câmara tem agido nesse sentido?
FR: Nós conversamos com a Mesa Diretora, chamamos o vereador e ele negou, disse que o jornal se enganou. Partindo de sua negativa não temos como levar o assunto adiante, porém nós já tínhamos enviado o jornal ao Ministério Público que continuará investigando.

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